Arthur Schopenhauer, famoso filósofo alemão do século 19, disse certa vez que a verdade científica tem três fases: primeira é ser ridicularizada, depois contestada até, finalmente, ser aceita como óbvia. O mesmo conceito é usado pelo médico brasileiro Sérgio Vaisman ao tentar explicar o atraso do Brasil quando se discute a chamada terapia de modulação hormonal bioidêntica (TMHB) e seus benefícios ao organismo humano.
Para ele, embora na Europa e em países de primeiro mundo o tema já tenha se tornado recorrente (assim como o uso dos hormônios bioidênticos), no Brasil o assunto é pouco difundido em grande parte pelo ceticismo da classe médica. “Tudo o que foge do ortodoxo, a princípio, é tido como charlatanismo. Essa resistência ao desconhecido sempre existiu na medicina”, diz Vaisman, professor de pós-graduação do curso de Medicina da Universidade Fernando Pessoa, em Portugal, e diretor científico da Sociedade Brasileira de Medicina Biomolecular e Radicais Livres.
A TMHB propõe o equilíbrio metabólico e orgânico até o final da vida humana baseada na aplicação dos bioidênticos (substâncias obtidas através da engenharia genética recombinante de estrutura molecular exatamente igual ao do corpo humano) e em substituição ao uso dos hormônios sintéticos. Segundo médicos, a maior vantagem é que as dosagens hormonais são calculadas com base na idade, no peso e no estilo de vida do paciente. Daí o termo modulação, e não simplesmente reposição.
O tratamento também vem ganhando popularidade no Exterior porque não ofereceria os riscos de efeitos colaterais dos remédios, entre eles, maior vulnerabilidade a determinados tipos de câncer. “Pense comigo: os sintéticos não são hormônios humanos, mas similares. Então, o que é melhor: o artificial ou aquelo que a natureza criou?”, questiona Vaisman.
Nascidos das pesquisas do cientista norte-americano Herbert Boyer, os bioidênticos propõem uma notável mudança de paradigmas. É um olhar que foge dos conceitos conhecidos pela geriatria e pela medicina estética. “Estamos falando em revitalização, não em rejuvenescimento. Até porque nada é mais individual do que envelhecer. Todos vamos envelhecer, mas como isso acontecerá é que pode ser variável. Com a TMHB estamos propondo uma velhice saudável porque as moléculas do corpo, com a reposição hormonal, continuarão em equilíbrio”, explica Vaisman.
Neste contexto, o aumento da expectativa de vida da população mundial interfere diretamente nas discussões sobre reposição hormonal e sua importância nos consultórios médicos. Somente no Brasil, estima-se que em 2020 a população com mais de 60 anos alcance a marca de 30 milhões de pessoas.
Autoridades em saúde de todo o mundo acreditam que, em 2040, a média de vida em países desenvolvidos seja de 100 anos. Já atualmente nos Estados Unidos 87% da população idosa consegue chegar (ou ultrapassar) os 84 anos. Como comparação, pode-se lembrar que, em 1930, por exemplo, as pessoas viviam em média 49 anos. “Na década de 60, a mulher que chegasse ao climatério aos 40 anos era considerada velha diante de um diagnóstico que relatava ondas de calor, pele ressecada, cabelos finos e libido zero. Hoje, com a reposição hormonal, ninguém diria isso”, frisa o médico.
Mas qual a garantia de uma velhice saudável? Pesquisas mundiais alertam que, ao mesmo tempo em que o homem está vivendo mais, também está adoecendo mais. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística do começo do ano mostram que apenas 14,7% dos brasileiros adultos praticam exercícios físicos com regularidade. Além disso, 50,1% estão acima do peso. “O que mostra que não existe receita mágica. A reposição hormonal é tão importante quanto a qualidade de vida. Temos que comer bem e fazer exercícios”, diz o médico.
São portas se abrindo
Hormônios são como chaves que destrancam as portas do corpo humano, ajudando no trânsito livre de todas as informações entre células. São eles que regulam o crescimento, o desenvolvimento, controlam as funções de alguns tecidos, auxiliam as tarefas reprodutivas e controlam o metabolismo.
Os hormônios também protegem o organismo de doenças como o câncer, por exemplo. Ou estão diretamente relacionados com outras patologias como a depressão que, entre outras causas, tem a ver com a queda na produção hormonal. Portanto, é indiscutível a relação de dependência entre a saúde do homem e sua produção de hormônios.
Sabe-se que, quando o ser humano envelhece, o corpo passa a produzir menos hormônio tornando-se alvo de manifestações físicas e emocionais. A menopausa e a andropausa, por exemplo, são períodos nos quais os níveis de hormônios variam bastante. “A medicina sempre organizou substâncias para imitar hormônios que estão faltando e melhorar sintomas. Mas sabemos que são substâncias não familiares ao organismo e que podem trazer efeitos colaterais”, diz.
Defensores dos bioidênticos comparam os sintéticos a cópia mal acabada de uma chave que, embora ocupe os receptores das células, não o faz com a mesma perfeição dos hormônios originais. Ou seja: as células recebem mensagens diferentes daquelas produzidas pelo hormônio humano e, ao longo do tempo, o acúmulo dessas mensagens erradas em pessoas geneticamente suscetíveis pode favorecer o aparecimento de doenças, interrompendo, mais uma vez, o processo de envelhecimento natural do corpo.
"Bioidênticos agridem menos"
O tratamento com bioidênticos é semelhante ao de reposição hormonal com sintéticos. O diagnóstico é feito por meio de exame de sangue. O uso pode pode ser oral ou através da pele (em creme ou gel). São bioidênticos o estradiol, estriol, progesterona e testosterona. “Hoje em dia, as pessoas estão cada vez mais interessadas em saúde e o interesse pela modulação hormonal é frequente”, defende o ginecologista obstetra e nutrólogo, Renato Valbert de Castro.
Ele defende os biodênticos por serem naturais e por agredirem menos a saúde se comparados aos sintéticos. “Eu receito a testosterona sublingual e o esteriol e a progesterona transdermica que, por não passarem direto pelo fígado, diminui o risco de câncer”, explica. “Os estrogênios sintéticos, por exemplo, são produzidos a partir da urina de éguas grávidas”, completa.
Como não existe uma sociedade brasileira de TMHB, a recomendação é perguntar ao seu médico de confiança seu posicionamento sobre o assunto e pedir indicações.
Desafios pela frente
Sérgio Vaisman esteve em Campinas ministrando o workshop Modulação Hormonal para médicos interessados no tema. O evento, realizado pela rede de farmácia e manipulação Fórmula & Cia, reuniu profissionais de diversas áreas da medicina uma vez que o conceito, de acordo com Vaisman, pode ser aplicado por qualquer profissional interessado em melhorar a qualidade de vida de seus pacientes. “Qualquer médico com boa vontade pode se familiarizar com o tema e ajudar seus pacientes. Além disso, sabe quem combate os bioidênticos? Quem não conhece. E não se trata de arrogância da minha parte porque é só responder a pergunta: você prefere a substância que o laboratório produz ou o que a natureza produz?”.
Para o médico, outro desafio (e talvez maior) dos bioidênticos é superar os obstáculos impostos também pela indústria farmacêutica que, naturalmente, perderia dinheiro com a popularização da THMB. “Porque eu digo que na Europa já se faz uso há anos e aqui não: porque no Brasil existem laboratórios que resistem em deixar entrar no mercado os naturais. Todo produto biológico, que é próprio do organismo humano, não pode ser patenteado com exclusividade, então não há interesse em desenvolver um produto que poderá ser copiado pelos concorrentes. Com isso, os bioidênticos ficam restritos a um grupo pequeno de pessoas”.
Principais sintomas referentes à falta de hormônios no organismo:
Em Mulheres
• Palpitação cardíaca • Suores noturnos • Insônia • Incontinência urinária - Ondas de Calor • Irritabilidade, agressividade, nervosismo, impaciência e ansiedade • Ganho de peso • Cansaço físico e diminuição da força muscular (fraqueza) • Depressão, alterações de humor e aumento da labilidade emocional • Ressecamento da pele • Diminuição da libido •Suscetibilidade a infecções • Desejo por carboidratos ou doces • Dificuldade de concentração.
Nos Homens
• Diminuição da sensação geral de bem-estar • Dor articular e muscular • Sudorese excessiva noturna • Insônia • Diminuição do fluxo urinário • Irritabilidade, agressividade, nervosismo, impaciência e ansiedade • Ganho de peso • Aumento da circunferência abdominal • Cansaço físico e diminuição da força muscular (fraqueza) • Depressão, alterações de humor e aumento da labilidade emocional • Aumento da oleosidade de pele • Diminuição do crescimento da barba • Diminuição da libido • Diminuição do número de ereções matutinas • Suscetibilidade a infecções • Avidez por carboidratos ou doces • Dificuldade de concentração.
Benefícios da Terapia de Modulação Hormonal BioidênticaAumenta a libido
Previne a osteoporose
Melhora o humor e aumenta a sensação de bem-estar
Diminui a ansiedade e a depressão
Melhora a ereção e a capacidade de ejaculação
Previne contra o aparecimento da aterosclerose
Melhora a fadiga
Aumenta a força e a massa muscular
Melhora a resposta imunológica
Aumenta a capacidade de memória e funções cognitivas
Reduz o risco de doenças cardiovasculares
Melhora a qualidade de vida
Diminui a gordura abdominal
Diminui a resistência a insulina (diabetes tipo II)
Diminui a taxa de colesterol
Melhora a insônia
Alivia as ondas de calor
Idosos no Brasil
Os idosos são hoje 14,5 milhões de pessoas, 8,6% da população total do País, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base no Censo 2000 – os números atualizados devem sair até o final do ano. O instituto considera idosas as pessoas com 60 anos ou mais, mesmo limite de idade considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para os países em desenvolvimento.
Expectativa de vida
Em uma década, o número de idosos no Brasil cresceu 17%. Em 1991, ele correspondia a 7,3% da população. O envelhecimento da população brasileira é reflexo do aumento da expectativa de vida, devido ao avanço no campo da saúde e à redução da taxa de natalidade. Prova disso é a participação dos idosos com 75 anos ou mais no total da população - em 1991, eles eram 2,4 milhões (1,6%) e, em 2000, 3,6 milhões (2,1%).
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