LYGIA ROCHA mail to:lygiarocha@terra.com.br
(Publicado no jornal Diário Comercial 20/04/2009)
Há poucos dias, o jogador de futebol Adriano declarou em entrevista à imprensa que vai dar um tempo na sua carreira porque “é mais feliz na favela do que na Itália”. Muitas pessoas questionaram como é que uma pessoa famosa, que ganha milhões de dólares por ano e é tratado como ídolo pela torcida local pode fazer semelhante afirmação. Vamos fazer um exercício e analisar alguns fatores que nem sempre percebemos, mas que podem levar a um comportamento como esse.
Depois que ficam famosas, durante algum tempo as pessoas podem se iludir com os “holofotes da mídia”, entretanto passados os primeiros momentos de glória, começam a se cansar. Em geral, todos gostam de se sentir amados, mas pelo que de fato são e não pela figura pública que se tornaram. Isso acontece porque a partir do instante que se transformam em celebridades, perdem a liberdade já que têm que estar sempre se policiando para não cometer nenhuma “gafe”. De certa forma, os ídolos são obrigados a usar uma “máscara” social e adotar comportamentos considerados politicamente corretos, na medida em que passam a servir de exemplo para os seus fãs.
No caso dos jogadores de futebol, então, em que grande parte da torcida é composta por crianças, não devem mais ser fotografados ingerindo bebidas alcoólicas, fumando ou agindo de um jeito que ofenda a “moral e os bons costumes vigentes”. Em hipótese alguma podem fazer arruaças ou arrumar brigas em locais públicos. Não podem nem pensar em tomar uma bebedeira para comemorar uma vitória do seu time ou um acontecimento feliz, ou mesmo ao contrário, para afogar as mágoas por uma derrota, morte de um parente ou por um fora que levaram da namorada.
Em momento algum os ídolos podem se dar ao luxo de andar desarrumados na rua ou agir de maneira “inconveniente” com o público, sob pena da mídia falar que estão “drogados” ou “entrando em decadência”. O excesso de exposição faz com que a maioria deles fique refém da própria fama. Quando estão sendo entrevistados ou quando são abordados por fãs na rua provavelmente se sentem como os animais selvagens que vivem enjaulados no Jardim Zoológico e têm que fazer “gracinhas” para os visitantes. Enfim, não têm mais direito à privacidade. Não podem nem mesmo sair com a família ou fazer um programa doméstico sem serem incomodados.
A maioria dos jogadores de futebol é proveniente das classes baixa e média baixa e morou em subúrbios ou até mesmo em favelas e foi acostumada a ter um relacionamento muito estreito com os seus vizinhos. Nesses lugares, as pessoas são conhecidas na comunidade não só pelo apelido que ganharam dos amigos como pelos seus parentes. Quando são crianças passam a maior parte do tempo brincando soltos pelas ruas com os amigos. Eles têm essa liberdade porque todos os conhecem e precisam de pouco para serem felizes. Não têm que representar nenhum papel social para serem aceitos pelo grupo uma vez que estão no seu habitat.
Essa liberdade que perdem com a fama, passa a incomodar depois de algum tempo porque, de modo geral, as verdadeiras amizades são “enxotadas” pelo novo grupo de relações. Sim, porque eles vivem cercados pelas conhecidas “marias chuteiras” e por pessoas que só querem usufruir do seu dinheiro e da sua glória para freqüentar os ambientes mais badalados. Muitos jogadores só percebem a falsidade “desses amigos” a partir do momento em que desaparecem quando eles estão em franca decadência ou até mesmo arruinados, já que gastaram muito dinheiro patrocinando festas e diversões para esse bando de “desocupados”.
A maioria das pessoas não entende desabafos como esse de Adriano porque não percebe a importância do papel representado por uma família estruturada e um círculo de amizades verdadeiras na vida de alguém. Muitos ídolos são “criados e sugados” pela mídia e não têm estrutura psicológica para agüentar o “tranco”. Eles se deixam enganar pelas aparências e quando dão por si foram abandonados por todos que os adulavam devido a sua fama e dinheiro e, na maioria das vezes não conseguem mais se recuperar. A jornalista Cora Ronai na sua coluna do jornal O Globo foi muito feliz quando observou que “Nós não vivemos só na nossa casa. Vivemos no nosso país, na nossa língua, nos nossos costumes”.
A máscara social utilizada por muita gente famosa, grande parte das vezes encobre sua personalidade na medida em que fazem uso dela para serem aceitas pelos grupos sociais a que ascenderam. Muitos chegam até a contratar uma equipe de assessores para ensiná-los a se vestir, a comprar e decorar a casa assim como para apresentá-los a pessoas importantes. Nas recepções da alta sociedade, por exemplo, muitos convidados que têm grande apetite comem antes em casa porque sabem que serão “julgados” pela quantidade de comida que ingerirem e não querem parecer famintos.
Essa “máscara” também é muito utilizada pelos participantes de “reality shows” como o programa BBB para conquistar a simpatia do público. Apesar de negarem, os jogadores procuram fazer um papel de “bom moço”, “amigo”, “ingênuo” e/ou “prestativo” para ganhar o jogo e acusam os demais de estarem “jogando” como sinônimo de “enganando”. Quando a sua estratégia não é bem sucedida e são eliminados do jogo, chegam até a chamar de “sem caráter” os participantes que se deram melhor.
Enfim, a maior necessidade do ser humano é a aceitação social. As pessoas só consideram ter sucesso quando o seu grupo social reconhece. Afinal, como perguntou com muita acuidade Cora Ronai, “Quem disse que uma pelada entre amigos e um churrasco na laje valem menos do que uma Ferrari?”
(Publicado no jornal Diário Comercial 20/04/2009)
Há poucos dias, o jogador de futebol Adriano declarou em entrevista à imprensa que vai dar um tempo na sua carreira porque “é mais feliz na favela do que na Itália”. Muitas pessoas questionaram como é que uma pessoa famosa, que ganha milhões de dólares por ano e é tratado como ídolo pela torcida local pode fazer semelhante afirmação. Vamos fazer um exercício e analisar alguns fatores que nem sempre percebemos, mas que podem levar a um comportamento como esse.
Depois que ficam famosas, durante algum tempo as pessoas podem se iludir com os “holofotes da mídia”, entretanto passados os primeiros momentos de glória, começam a se cansar. Em geral, todos gostam de se sentir amados, mas pelo que de fato são e não pela figura pública que se tornaram. Isso acontece porque a partir do instante que se transformam em celebridades, perdem a liberdade já que têm que estar sempre se policiando para não cometer nenhuma “gafe”. De certa forma, os ídolos são obrigados a usar uma “máscara” social e adotar comportamentos considerados politicamente corretos, na medida em que passam a servir de exemplo para os seus fãs.
No caso dos jogadores de futebol, então, em que grande parte da torcida é composta por crianças, não devem mais ser fotografados ingerindo bebidas alcoólicas, fumando ou agindo de um jeito que ofenda a “moral e os bons costumes vigentes”. Em hipótese alguma podem fazer arruaças ou arrumar brigas em locais públicos. Não podem nem pensar em tomar uma bebedeira para comemorar uma vitória do seu time ou um acontecimento feliz, ou mesmo ao contrário, para afogar as mágoas por uma derrota, morte de um parente ou por um fora que levaram da namorada.
Em momento algum os ídolos podem se dar ao luxo de andar desarrumados na rua ou agir de maneira “inconveniente” com o público, sob pena da mídia falar que estão “drogados” ou “entrando em decadência”. O excesso de exposição faz com que a maioria deles fique refém da própria fama. Quando estão sendo entrevistados ou quando são abordados por fãs na rua provavelmente se sentem como os animais selvagens que vivem enjaulados no Jardim Zoológico e têm que fazer “gracinhas” para os visitantes. Enfim, não têm mais direito à privacidade. Não podem nem mesmo sair com a família ou fazer um programa doméstico sem serem incomodados.
A maioria dos jogadores de futebol é proveniente das classes baixa e média baixa e morou em subúrbios ou até mesmo em favelas e foi acostumada a ter um relacionamento muito estreito com os seus vizinhos. Nesses lugares, as pessoas são conhecidas na comunidade não só pelo apelido que ganharam dos amigos como pelos seus parentes. Quando são crianças passam a maior parte do tempo brincando soltos pelas ruas com os amigos. Eles têm essa liberdade porque todos os conhecem e precisam de pouco para serem felizes. Não têm que representar nenhum papel social para serem aceitos pelo grupo uma vez que estão no seu habitat.
Essa liberdade que perdem com a fama, passa a incomodar depois de algum tempo porque, de modo geral, as verdadeiras amizades são “enxotadas” pelo novo grupo de relações. Sim, porque eles vivem cercados pelas conhecidas “marias chuteiras” e por pessoas que só querem usufruir do seu dinheiro e da sua glória para freqüentar os ambientes mais badalados. Muitos jogadores só percebem a falsidade “desses amigos” a partir do momento em que desaparecem quando eles estão em franca decadência ou até mesmo arruinados, já que gastaram muito dinheiro patrocinando festas e diversões para esse bando de “desocupados”.
A maioria das pessoas não entende desabafos como esse de Adriano porque não percebe a importância do papel representado por uma família estruturada e um círculo de amizades verdadeiras na vida de alguém. Muitos ídolos são “criados e sugados” pela mídia e não têm estrutura psicológica para agüentar o “tranco”. Eles se deixam enganar pelas aparências e quando dão por si foram abandonados por todos que os adulavam devido a sua fama e dinheiro e, na maioria das vezes não conseguem mais se recuperar. A jornalista Cora Ronai na sua coluna do jornal O Globo foi muito feliz quando observou que “Nós não vivemos só na nossa casa. Vivemos no nosso país, na nossa língua, nos nossos costumes”.
A máscara social utilizada por muita gente famosa, grande parte das vezes encobre sua personalidade na medida em que fazem uso dela para serem aceitas pelos grupos sociais a que ascenderam. Muitos chegam até a contratar uma equipe de assessores para ensiná-los a se vestir, a comprar e decorar a casa assim como para apresentá-los a pessoas importantes. Nas recepções da alta sociedade, por exemplo, muitos convidados que têm grande apetite comem antes em casa porque sabem que serão “julgados” pela quantidade de comida que ingerirem e não querem parecer famintos.
Essa “máscara” também é muito utilizada pelos participantes de “reality shows” como o programa BBB para conquistar a simpatia do público. Apesar de negarem, os jogadores procuram fazer um papel de “bom moço”, “amigo”, “ingênuo” e/ou “prestativo” para ganhar o jogo e acusam os demais de estarem “jogando” como sinônimo de “enganando”. Quando a sua estratégia não é bem sucedida e são eliminados do jogo, chegam até a chamar de “sem caráter” os participantes que se deram melhor.
Enfim, a maior necessidade do ser humano é a aceitação social. As pessoas só consideram ter sucesso quando o seu grupo social reconhece. Afinal, como perguntou com muita acuidade Cora Ronai, “Quem disse que uma pelada entre amigos e um churrasco na laje valem menos do que uma Ferrari?”
Um comentário:
Interesante o que apresentou. Eu não sou fã de futebol, por acaso vi a historia do Adriano outro dia. Francamente, os craques tem uma ascensão repentina em todos os sentidos, bastante complicada para lidar e mudar comportamentos.
Do mais, desculpa, acho um total absurdo eles ganharem tanto dinheiro, muitas vezes serem uns perna de pau na partida errada, comparado a nós que nos esforçamos uma vida inteira e nem durante um ano ganhamos o que eles ganham num mês. Teriam que ser muito melhores em tudo mesmo.
Beijos
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