quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Eu adoro voar!

                                                               Autora: Clarice Lispector


Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais fortes ,

dos cafés mais amargos, dos pensamentos mais complexos

e dos sentimentos mais intensos .

Tenho um apetite feroz e os delírios mais loucos .

Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer :

E daí?...

Eu adoro voar !"

O PÁSSARO

Autor: Rubens Alves

"Era uma vez uma menina que tinha como seu melhor amigo, um Pássaro Especial. Ele era assim por duas razões:

- Primeiro porque ele não vivia em gaiolas. Vivia solto. Vinha quando queria. Vinha porque a amava.

- Segundo, porque sempre que voltava suas penas tinham cores diferentes, as cores dos lugares por onde tinha voado.
Certa vez voltou com penas imaculadamente brancas, e ele contou estórias de montanhas cobertas de neve. Outra vez suas penas estavam vermelhas, e ele contou estórias de desertos incendiados pelo sol. Era grande a felicidade quando estavam juntos. Mas sempre chegava o momento quando o pássaro dizia:

- "Tenho de partir."

A menina chorava e implorava:

- "Por favor, não vá, fico tão triste. Terei saudades e vou chorar..."

- "Eu também terei saudades", dizia o pássaro. "Eu também vou chorar. Mas vou lhe contar um segredo: eu só sou especial por causa da saudade que faz com que as minhas penas fiquem bonitas. Se eu não for não haverá saudade. E eu deixarei de ser o Pássaro Especial e você deixará de me amar."

E partiu.

A menina, sozinha, chorava. E foi numa noite de saudade que ela teve a ideia: "Se o Pássaro não puder partir, ele ficará. Se ele ficar, seremos felizes para sempre. E para ele não partir basta que eu o prenda numa gaiola."
Assim aconteceu. A menina comprou uma gaiola de prata, a mais linda. Quando o pássaro voltou eles se abraçaram, ele contou estórias e adormeceu. A menina, aproveitando-se do seu sono, engaiolou-o. Quando o pássaro acordou ele deu um grito de dor.

- "Ah! Menina...que é isso que você fez? Minhas penas ficarão feias e eu me esquecerei das estórias. Sem a saudade o amor irá embora..."

A menina não acreditou. Pensou que ele acabaria por se acostumar. Mas não foi isso que aconteceu. Caíram suas plumas e o penacho. Os vermelhos, os verdes e os azuis das penas transformaram-se num cinzento triste. E veio o silêncio: deixou de cantar. Também a menina se entristeceu. Não era aquele o pássaro que ela amava. E de noite chorava pensando naquilo que havia feito com seu amigo...

Até que não mais aguentou. Abriu a porta da gaiola:

- "Pode ir, Pássaro", ela disse." Volte quando você quiser..."

- "Obrigado, menina", disse o Pássaro." Irei mas voltarei . E você sabe: ficarei especial de novo quando a saudade voltar dentro de mim e dentro de você!"

Há momentos...

Autora: Clarice Lispector

"Há momentos na vida em que sentimos tanto

a falta de alguém que o que mais queremos

é tirar esta pessoa de nossos sonhos

e abraçá-la.

Sonhe com aquilo que você quiser.

Seja o que você quer ser,

porque você possui apenas uma vida

e nela só se tem uma chance

de fazer aquilo que se quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.

Dificuldades para fazê-la forte.

Tristeza para fazê-la humana.

E esperança suficiente para fazê-la feliz.

As pessoas mais felizes

não têm as melhores coisas.

Elas sabem fazer o melhor

das oportunidades que aparecem

em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.

Para aqueles que se machucam.

Para aqueles que buscam e tentam sempre.

E para aqueles que reconhecem

a importância das pessoas que passam por suas vidas.

O futuro mais brilhante

é baseado num passado intensamente vivido.

Você só terá sucesso na vida

Reverência ao destino.

Autor: Carlos Drummond de Andrade

Falar é completamente fácil, quando se tem palavras em mente que expressem sua opinião.
Difícil é expressar por gestos e atitudes o que realmente queremos dizer, o quanto queremos dizer, antes que a pessoa se vá.

Fácil é julgar pessoas que estão sendo expostas pelas circunstâncias.
Difícil é encontrar e refletir sobre os seus erros, ou tentar fazer diferente algo que já fez muito errado.

Fácil é ser colega, fazer companhia a alguém, dizer o que ele deseja ouvir.
Difícil é ser amigo para todas as horas e dizer sempre a verdade quando for preciso.
E com confiança no que diz.

Fácil é analisar a situação alheia e poder aconselhar sobre esta situação.
Difícil é vivenciar esta situação e saber o que fazer ou ter coragem pra fazer.

Fácil é demonstrar raiva e impaciência quando algo o deixa irritado.
Difícil é expressar o seu amor a alguém que realmente te conhece, te respeita e te entende.
E é assim que perdemos pessoas especiais.

Fácil é mentir aos quatro ventos o que tentamos camuflar.
Difícil é mentir para o nosso coração.

Fácil é ver o que queremos enxergar.
Difícil é saber que nos iludimos com o que achávamos ter visto.
Admitir que nos deixamos levar, mais uma vez, isso é difícil.

Fácil é dizer "oi" ou "como vai?"
Difícil é dizer "adeus", principalmente quando somos culpados pela partida de alguém de nossas vidas...

Fácil é abraçar, apertar as mãos, beijar de olhos fechados.
Difícil é sentir a energia que é transmitida.
Aquela que toma conta do corpo como uma corrente elétrica quando tocamos a pessoa certa.

Fácil é querer ser amado.
Difícil é amar completamente só.
Amar de verdade, sem ter medo de viver, sem ter medo do depois. Amar e se entregar, e aprender a dar valor somente a quem te ama.

Fácil é ouvir a música que toca.
Difícil é ouvir a sua consciência, acenando o tempo todo, mostrando nossas escolhas erradas.

Fácil é ditar regras.
Difícil é seguí-las.
Ter a noção exata de nossas próprias vidas, ao invés de ter noção das vidas dos outros.

Fácil é perguntar o que deseja saber.
Difícil é estar preparado para escutar esta resposta ou querer entender a resposta.

Fácil é chorar ou sorrir quando der vontade.
Difícil é sorrir com vontade de chorar ou chorar de rir, de alegria.

Fácil é dar um beijo.
Difícil é entregar a alma, sinceramente, por inteiro.

Fácil é sair com várias pessoas ao longo da vida.
Difícil é entender que pouquíssimas delas vão te aceitar como você é e te fazer feliz por inteiro.

Fácil é ocupar um lugar na caderneta telefônica.
Difícil é ocupar o coração de alguém, saber que se é realmente amado.

Fácil é sonhar todas as noites.
Difícil é lutar por um sonho.

Eterno, é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata.

sábado, 6 de novembro de 2010

Sentir pena de sí mesmo.

Autor: Luiz Alberto Py - www.doutorpy.blogspot.com

"Quase todos nós caímos, por vezes, na armadilha da autopiedade. Mas algumas pessoas não conseguem se libertar dela. Aqueles que ficam com pena de si mesmos são facilmente reconhecíveis. Contam, com riqueza de detalhes, episódios tristes e dolorosos de suas vidas, guardados como se fossem recordações dignas de um álbum. O que dá pena não são as situações sofridas - porque sofrimentos todos nós vivemos - mas a dificuldade que estas pessoas apresentam em superar os traumas ocorridos e deixá-los no passado. É lamentável que eles se disponham a viver colecionando dores, sofrimentos e -- principalmente -- rancores e amarguras. Estas lembranças só servem para aumentar o peso da existência.

O maior perigo destas atitudes reside no fato de que toda a vida da pessoa fica contaminada pelos acontecimentos antigos e tudo de novo que acontece é avaliado como se fosse uma repetição do passado. As pessoas que foram traídas passam a esperar de cada pessoa que delas se aproxima uma nova traição. Aqueles que foram agredidos vêem uma agressão em cada nova situação de vida, e assim por diante.

Além disto, quando cultivamos a atitude de ter pena de nós mesmos, estamos nos colocando voluntariamente em uma situação de fragilidade e inferioridade. Seria muito melhor fazer um esforço para virar a página e deixar o passado se desfazer na poeira do tempo.

É preferível tentarmos esquecer o passado e nos esforçarmos para conseguir nos libertar dos sentimentos negativos. Aprendermos quais são os nossos ideais e lutarmos para conquistá-los. E precisamos estabelecer projetos de vida que sejam possíveis de serem realizados e nos ligarmos neles e em sua execução. Isto é muito mais positivo do que ficarmos vitimados por infortúnios passados e por isto negarmos a nós mesmos a possibilidade de conquistar a felicidade.

A vida é difícil para todos nós. Saber disto nos ajuda porque nos poupa da autopiedade. Ter pena de si mesmo é uma viagem que não leva a lugar nenhum. Justificar a autopiedade toma um tempo enorme na construção de argumentos e motivos para nos entristecermos com uma coisa absolutamente natural: nossas dificuldades. Não vale a pena perder tempo se queixando dos obstáculos que têm de ser superados para sobreviver e para crescer.

É melhor ter pena dos outros e tentar ajudar os que estão próximos e precisam de uma mão amiga, de um sorriso de encorajamento e de um abraço de conforto. E usar sempre nossas melhores qualidades para resolver problemas, que são as capacidades de amar, de tolerar e de rir.

Muitas pessoas vivem a se queixar de suas condições desfavoráveis, culpando as circunstâncias por suas dificuldades ou fracassos. As pessoas que se dão bem no mundo são aquelas que saem em busca de condições favoráveis e quando não as encontram se esforçam por criá-las. Quem acreditar que a vida é um jogo de sorte vai perder sempre. A questão não é receber boas cartas, mas usar bem as que nos chegam às mãos."


(*) Colaboração enviada por Levy Delfino

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A vida entrelinhas

Autora : Letícia Thompson


"É incrível como em várias
situações da vida nos tornamos
cegos a certas coisas.

Vemos o que queremos ver,
sabemos o que queremos saber
e tudo o mais toma uma
importância tão mínima que quase
desaparece da nossa memória.

É assim que muitas pessoas
toleram situações que,
se assim não fosse,
se tornariam insuportáveis.

Mas como todas as moedas
têm dois lados,
nem sempre ignorar os fatos
nos ajuda a melhor viver.

Precisamos saber reconhecer
o que está nas entrelinhas da vida,
buscar a honestidade relacionada
a uma situação,
uma pessoa, a si mesmo,
à própria vida.

Se nos cegamos
voluntariamente a algo importante,
o fardo não se torna mais leve.
Apenas fugimos para
lugar nenhum.

O fato de não vermos um
problema não o torna inexistente e,
sejamos francos,
não nos machuca menos.

Quantas e quantas vezes
sentimos que algo nos incomoda,
vivemos num mal-estar quase
constante e continuamos
a prosseguir.

Se procurarmos ver um
pouco mais profundamente,
honestamente e sem medo,
com ou sem ajuda,
encontraremos a raiz do mal.

Fazer face à certas coisas
poderá provocar muitas lágrimas.
Mas lágrimas benditas,
que nos ajudarão a evacuar a
dor e provocarão o profundo suspiro
de alívio depois de algum tempo.

Eu sei que não é fácil abrir o coração,
escancarar a alma e resolver tudo
como num passe de mágica.

Sei que não é de uma hora
pra outra que tudo se
torna claro e visível.
E é para isso que
existe o tempo.

Porém a porta do querer
saber deve ser aberta por nós.
Depois outras portas se abrirão,
devagarzinho, até a última,
que nos mostrará a luz do dia,
nos dirá que a vida é bela,
apesar de tudo o que vivemos
ou tivemos que passar.

Nos possíveis e impossíveis da vida,
muito está nas nossas mãos.

A melhor maneira de ler
as entrelinhas da vida é com os olhos
fechados em oração
e súplica Àquele que cuida de
nós nos mínimos detalhes e que,
para nos dar exemplo,
foi como nós,
carregou um fardo e
também chorou."

Colaboração: Marcia Parzianello.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Quando o amor se desfaz... (SR)

Autor: Sergio L. M. Rocha


O amor quando se desfaz, traz consigo sentimentos que dilaceram a alma.
Fazem sofrer, incrustam dores profundas, difíceis de sarar.
As lembranças, por mais felizes, só fazem aumentar o sentimento de perda e de dor.
A vontade de estar perto, de acarinhar, de conversar, se
torna num cruel instrumento de tortura,
já que tais desejos não mais são possíveis.
Torturantes e sofridas, assim as recordações se oferecem, ao invés de se mostrarem prazerosas e alegres.
Os dias felizes, o jeito de falar, os sussurros, as juras de amor eterno, que aos poucos foram escasseando,
e se apresentando breves, frios e em meros contatos formais,
se transformam numa enorme saudade.
Lindos sonhos que se desfazem,
e que cicatrizes abertas deixam.