quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Não sei quantas almas tenho.


Autor: Fernando Pessoa

"Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu."

3 comentários:

Sergio Rocha disse...

Poetisa (Lucia Farias)
http://maisde50.uol.com.br/rede_blog_comentario.asp?usuario=402183&postagem=7271#postagemnova

"Lindo, Sérgio!
Também gosto do Pessoa.
Aliás, já imaginou se todos esses poetas maiores voltassem à terra para um sarau???
Que maravilha!
Parabéns pela escolha. Bj.Lu"

neusamcouto@gmail.co. disse...

Sergio seu Blog é uma delícia!
Já li desde Cora Coralina até Fernando Pessoa.E nunca me canso de ler...
Parabéns pelo Blog meu querido amigo.
Beijinhos afetuosos.

Anônimo disse...

Alguns poetas têm a felicidade de exprimir o que tanta gente sente e não sabe verbalizar.Eu sou uma pessoa comum,sem nada de especial,mas a cada dia me sinto outra pessoa.Às vezes tomo uma resolução antes de dormir e no dia seguinte ignoro-a completamente como se outra pessoa a houvesse tomado por mim.Eu sou uma e sou mil pessoas,mudando de opinião e de sentimentos o tempo todo.
É esse o valor de um verdadeiro poeta: ser ele e ser todo mundo ao mesmo tempo.Por isso, Fernando Pessoa é um mestre!