terça-feira, 16 de junho de 2009

A NOVA MULHER. QUEM VAI ENCARAR?

LYGIA ROCHA mail to:lygiarocha@terra.com.br
Publicado no jornal Diário Comercial 16/06/2009)


"As mulheres estão com força total! A maioria das mais jovens – com idade entre 25 e 35 anos - é solteira, bem sucedida profissionalmente e não está preocupada em achar a sua metade uma vez que acredita que tem uma vida muito prazerosa. Segundo a pedagoga Sheila Rigler, diretora da Consultoria em Relações Humanas e Agência de Casamentos Par Ideal, de Curitiba, elas ganham o próprio sustento, saem bastante e têm carro próprio. De modo geral, atualmente, as mulheres solteiras moram sozinhas - uma boa parte delas em apartamento próprio - e viajam bem mais que as casadas assim como vão mais ao teatro e ao cinema.

As características mais marcantes dessas novas mulheres são as de querer viver com conforto e aproveitar bem as suas horas de lazer. Como gostam da sua independência, a maioria só começa a pensar em casamento a partir dos 30 anos quando dá início a sua busca por um companheiro que esteja a sua altura. Contudo, o encontro do par idealizado é dificultado pelo alto padrão de exigência na escolha do parceiro uma vez que querem alguém do mesmo nível intelectual, social e financeiro. Ao mesmo tempo, não têm dificuldade de achar um par quando saem à noite para se divertir já que são animadas. Só que essa companhia noturna está longe do ideal delas.

De acordo com o Instituto Ipsos Marplan, as solteiras ocupam postos mais altos de trabalho (47% contra 34%), vão mais à praia (46% contra 42%), a shows (31% contra 22%) e lêem mais (39% contra 35%) em comparação com as casadas. Esses resultados mostram que os “sonhos” das meninas dos dias de hoje mudaram. Ao invés de saírem à procura do “príncipe encantado”, estão preferindo buscar a “realidade” do sucesso na carreira que escolheram. Não é a toa que as “novas” mulheres, de modo geral, têm mais preparo do que os homens, já que investem tempo e dinheiro em cursos que consideram importantes para alcançar posições de comando nas empresas.

Segundo Sheila Rigler, hoje em dia as mulheres solteiras não são mais marginalizadas pela sociedade e nem têm a obrigação de casar. Como são bem sucedidas, não estão dispostas a abrir mão desse estilo de vida que conquistaram sozinhas. De acordo com o IBGE, enquanto em 1987 apenas 80 mil mulheres se casavam entre 30 e 39 anos, em 2007 esse número pulou para 181 mil. Desconsiderando o aumento populacional das últimas duas décadas, isso representa um aumento de 50%. Esses dados indicam que uma geração de mulheres solteiras está casando mais tarde porque está priorizando o aprendizado de lidar com a própria independência.

A psicóloga Bárbara Snizek, da Agência de Casamentos Par Ideal, alerta para o estereótipo ainda vigente de dizer que as mulheres que têm carreiras bem sucedidas têm problemas na vida afetiva. Para ela, os fracassos na vida amorosa podem estar relacionados não a uma inaptidão afetiva, mas a um grau de exigência mais apurado e a uma recusa em viver relações não satisfatórias. Elas estão cientes que essa sua independência assusta os homens, entretanto preferem ficar com o sucesso profissional que fizeram tanto esforço para conquistar, mas que lhes permite viver muito bem sem precisar de nenhum suporte financeiro de um marido.

A fim de traçar um perfil das executivas brasileiras, a empresa Caliper Brasil realizou uma pesquisa em parceria com a revista HSM com 66 mulheres que ocupam cargos na alta hierarquia das organizações. Os resultados derrubam mitos como os de que para ascender na carreira tenham que abrir mão da família e adotar um comportamento “masculinizado”, já que 65% das entrevistadas são casadas. O estudo aponta como pontos fortes das mulheres seu estilo de comunicação assertivo de expor idéias e estratégias, a delegação de responsabilidades, sua liderança envolvente para buscar comprometimento da equipe, sua rapidez e foco nos resultados.

Embora sejam práticas na resolução dos problemas, as mulheres são flexíveis para perceber as necessidades da equipe e demonstram empatia para escutar opiniões diferentes das suas e rever conceitos na busca de soluções, o que enriquece o processo decisório. Elas buscam o bem-estar das pessoas, reconhecem as qualidades alheias, são intuitivas, hábeis com múltiplas tarefas, têm uma visão tanto pontual como abrangente, gostam de persuadir e convencer sua equipe e são abertas à absorção de novos conhecimentos. Para alcançar o sucesso, essas executivas tiveram que transgredir os valores vigentes, questionar superiores e ousar.

Os maiores desafios para as mulheres ascenderem a posições de comando nas empresas são vencer o preconceito de gênero e provar a sua competência. Elas são motivadas por desafios, resultados e pela evolução das pessoas e definem sucesso como o equilíbrio da vida pessoal e profissional, fazer o que gostam em um lugar que gostam e a construção de algo importante para a melhoria de vida das pessoas. Essas características femininas fizeram com que diversos estudos nos Estados Unidos tenham constatado que as organizações com maior representação de mulheres na direção consigam um desempenho significativamente melhor que as concorrentes.

Ainda bem que muitas mulheres não encontraram seus “príncipes encantados” e investiram no sucesso da vida profissional desistindo de ficar aturando “sapos” só para ter alguém que as sustentasse. Cássia Eller já colocava esse questionamento quando cantava os versos da música “Malandragem” de Cazuza e Frejat que diziam “quem sabe o príncipe virou um chato, que vive dando no meu saco”! As mulheres de hoje sabem o que querem e as organizações – e os homens também! - só têm a ganhar com um melhor aproveitamento das suas habilidades. Assim sendo, quem vai encarar?"

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