sábado, 6 de junho de 2009

Os casais que caminham de mãos dadas.


Moacyr Scliar


"Dar a mão a alguém significa ajudar esta pessoa; é a expressão de um amparo que pode ser prático, mas é emocional também.


Médico de saúde pública, costumo fazer aquilo que recomendo a outras pessoas: todos os dias me exercito, seja na ACM em Porto Alegre, seja no fitness room de hotéis (quase todos agora oferecem esta facilidade), seja simplesmente caminhando por ruas e parques, o que apresenta a vantagem adicional de conhecer lugares e observar pessoas. E, observando, nunca deixo de reparar nos casais que caminham de mãos dadas.

Um hábito que chama a atenção, porque estas pessoas renunciam ao movimento dos braços que em geral é parte da marcha - mas o fazem por boas razões, como já veremos. Mas primeiro é preciso dizer que, em outros países, sobretudo no sul da Ásia, não só casais andam de mãos dadas; homens também o fazem, é até um sinal de amizade.

Num encontro internacional de saúde pública passei por certo constrangimento quando, ao sairmos do prédio, um colega paquistanês quis caminhar de mãos dadas comigo, o que, para alguém vindo do Rio Grande do Sul, parecia no mínimo estranho.

Aqui, se vemos pessoas de mãos dadas, certamente se trata de casais.

São, em geral, pessoas de meia- idade ou mesmo idosas. Aliás, é mais raro ver casais jovens caminhando juntos, o que é facilmente explicável: é uma fase em que homem e mulher têm compromissos separados, seja em casa, seja no trabalho; compatibilizar horários pode então ser uma coisa complicada. Na fase da aposentadoria, dos filhos crescidos, há mais tempo disponível: marido e mulher podem viajar juntos, podem almoçar juntos e podem caminhar juntos. E, quando o fazem, é freqüentemente de mãos dadas.

Por quê? Por que caminham de mãos dadas, estes casais?

A resposta mais óbvia é a de que assim estão se protegendo mutuamente.

As ruas das cidades brasileiras freqüentemente são esburacadas e, a partir de certa idade, um buraco é mais do que um buraco, é uma armadilha, por causa do risco de quedas.

Os resultados de uma queda podem ser bem desagradáveis: a fratura de colo do fêmur é um espectro da maturidade. Na verdade, o colo do fêmur é nosso calcanhar de Aquiles, é um ponto de menor resistência.

O fêmur é forte, reto, orgulhoso, como a coluna de um templo grego. Mas ele não é parte de um templo grego, é parte de nosso corpo, e assim, de repente, precisa fazer uma inflexão para se encaixar na bacia.

Ora, súbitas inflexões, inesperadas mudanças de rumo têm seu preço; no caso, o colo do fêmur, que é sede de freqüentes fraturas. Por causa dessa possibilidade os casais se apóiam mutuamente.

Este é o lado prático de andar de mãos dadas. Mas há também o lado simbólico.

A mão é o emblema de nossa humanidade.

A mão transformou o troglodita do passado no Homo faber, o homem, e a mulher, que fazem coisas, que confeccionam objetos.

A mão, porém, não é só um instrumento de trabalho, é um veículo de emoções.

Dar a mão a alguém significa ajudar esta pessoa; é a expressão de um amparo que pode ser prático mas é emocional também.

Estou aqui, diz o homem à mulher cuja mão ele segura.

Estou aqui, diz a mulher ao homem cuja mão ela segura.

"Se todas as pessoas do mundo/ quisessem se dar as mãos", como diz o famoso poema do francês Paul Fort, seríamos mais unidos, mais felizes.

Seríamos mais humanos. E poderíamos rir dos muitos buracos que encontramos na vida."

2 comentários:

Vanessa disse...

Amei!!!

Anônimo disse...

Adoro andar de maos dadas. Vo com tds pessoas que me amam de mha tia ate as pessoas com quem tho relacao emocional msm apenas conhecidas. Faz bem ao ns corpo msm. Bjs td mundo